Quando é amor?

Certa vez, após assistir ao filme Persuasão - 2022 (filme baseado no livro homônimo de Jane Austen), fiquei bem reflexiva e tive vontade de escrever a seguinte percepção sobre uma cena que transmitia esta mensagem: 

"Quando amamos alguém é porque admiramos aquela pessoa. É porque achamos que ela é melhor do que nós mesmos." 

Então pensei: "Logo, se alguém não te admira e também não acha que você é melhor do que ele, então esse alguém não te ama."

Pensei em escrever uma abordagem sobre o amor familiar entre casais com filhos. Tentar entender como essa frase do filme poderia se encaixar nesse cenário. 

Comecei pesquisando o significado das palavras "amor" e "ego" para que fique mais claro o que vou explicar nos próximos parágrafos:

  • Amor deriva do latim "amor,ōris" que tem o significado de amizade, desejo grande, paixão. No dicionário, amor é o sentimento que leva uma pessoa a desejar o que se lhe afigura belo, digno ou grandioso. 
  • Ego deriva do latim "ego", que tem o significado de "eu". De acordo com o dicionário, ego é a experiência que o indivíduo possui de si mesmo ou concepção que faz de sua personalidade. 

Quando temos filhos, o amor é uma palavra bastante explorada pelos pais. Falamos no "automático" que amamos nossos filhos. No entanto, é importante percebermos quais atitudes fazemos por amor a eles e quais atitudes fazemos para satisfazer o nosso ego.

Quando não existe amor ao próximo, existe apenas o ego, ou seja amor próprio. As preocupações que uma pessoa com ego forte tem pelo filho, até parecem atitudes por amor, porém podem ser apenas reflexões e críticas de seus próprios pais sobre suas atitudes passadas que ela não quer que se repitam. Logo não haveria realmente uma preocupação pelo outro, mas apenas uma necessidade de tranquilizar o próprio ego futuro, que poderá criticá-la. Por isso é tão difícil essa pessoa enxergar o presente, o que realmente está acontecendo. Vou apresentar um exemplo de uma atitude:

  • Ego: exigir que o filho coma uma comida que não gosta, pois está preocupada com a nutrição dele.
  • Amor: preparar comidas nutritivas que o filho gosta e será grato por aquela refeição.

Quando temos consciência do momento presente, conseguimos agir com amor. Atitudes que seriam automáticas e controladas pelo ego, passam a ser descartadas. O amor nos fortalece e nos ajuda a pensar em alternativas para agir com mais empatia com o próximo. Atendemos às necessidades do filho e não apenas controlamos eles para que façam o que seria conveniente para a gente. 

Agir pelo ego permite àquela pessoa punir o filho a ser contrária ao seu ego futuro, pois esse "eu" do futuro está no comando, deixando-a frágil e sem ação. Controlada completamente pelo medo que o ego do futuro lhe apresenta em seus pensamentos, reprimindo qualquer atitude racional sobre o presente. Imaginar-se no futuro redimindo-se para si próprio, por não ter feito é insuportável. Tão forte que ela é incapaz de agir diferente do que o ego futuro realmente acha que deve fazer. 

Se uma pessoa parceira (mãe ou pai) que cuida do filho junto com o outro (o que tem o ego futuro), não concordar com essas atitudes e for conivente. Então é provável que a parceira não tenha amor próprio, já que aceita mediocridades apenas por amar profundamente ele. Não critica as ações realizadas por ele, pois se o outro estiver feliz, ela também se sentirá feliz e achará que o amor ao próximo justifica qualquer atitude duvidosa.

Mas esse amor que se sente pelo outro, quando não há amor próprio, pode impedir que ele a ame. Já que ela estará se anulando em detrimento do outro. Ou seja, tornando-a sem o valor que pudesse fazer que o outro a amasse profundamente. Como o amor verdadeiro só acontece quando o outro nos valoriza e acha que somos melhor do que ele próprio. Então esse filme me fez perceber que o amor só é recíproco quando praticamos o amor ao próximo e o amor a si mesmo.


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