Terapia dos pratos

Outro dia, pela manhã, estava experimentando novas receitas. No final, a pia ficou cheia de pratos. Dentre eles, havia uma forma de alumínio, a única peça feita com esse material em minha cozinha. Lembrei que quando era criança as panelas em geral eram feitas com esse material. Isso custava um bom tempo para minha mãe, que gostava de ver suas panelas brilhando, e ela as areava usando o Bombril. Acho que esse vocabulário nunca foi usado perto dos meus filhos; acredito que eles nem conhecem o termo "arear a panela". Imediatamente, pensei como são bons os tempos atuais, em que temos opções de panelas que não precisam disso para ficarem limpas. Passo bem menos tempo lavando os pratos.

Comecei a arear a forma de alumínio, que sensação sublime, algo que não sentia faz um tempo. Minha mente desligou, meus olhos focaram apenas na perfeição do brilho do alumínio. Que diferença, que prazer por ter conseguido deixar aquela peça com aspecto de nova. Nossa, que surpresa eu tive, durante aqueles minutos consegui me desligar dos problemas, das próximas coisas a fazer, meu foco ficou apenas naquele brilho do alumínio.

Após lavar os pratos, me veio uma reflexão: nem tudo o que é antiquado é ruim. Na verdade, existe um bem associado ao ato de arear as panelas que perdemos, um simples momento de desligar nossa mente, uma pequena meditação. Hoje temos tantas facilidades e a tendência é termos ainda mais. A tecnologia chega voraz e não nos dá tempo nem de refletir as perdas e os ganhos de cada facilidade que temos no nosso dia a dia. Não paramos para perceber que onde se ganha se perder, mas em geral o foco está no que ganhamos, o que perdemos é deixado de lado.

Será que estamos gastando com qualidade o tempo que ganhamos por não precisar mais arear as panelas, por delegar para máquina de lavar esfregar a “noda” na roupa ou esperar que o robô aspirador varra o chão? O que de fato ganhamos por termos essas facilidades? 

Minha reflexão foi além, fiquei pensativa sobre: Como posso querer me espelhar na maternidade que recebi, se os tempos mudaram? Se tudo que faço hoje é uma adaptação do que recebi para me adequar aos tempos modernos? Minha resposta foi que a minha base são os valores que recebi, apesar das mudanças existirem e vão sempre existir, meus valores são sólidos. Isso é o que tem que perdurar, isso é o que preciso identificar e passar para meus filhos.

Esses valores são a base da educação que passo para meus filhos, logo meus atos serão diferentes dos que recebi dos meus pais, mas os resultados podem ser mantidos. Compreender essas mudanças no meu estilo de vida é uma das coisas às quais preciso ficar atenta, para não deixar de enxergar os pontos positivos e negativos de cada atitude. De vez em quando vou arear essa forma de alumínio, quem sabe tenho outras reflexões. (Risos)

Pensei em alternativas para balancear este contraponto entre as facilidades da tecnologia e o uso do tempo com mais qualidade. Poderia-se ter mais atenção sobre a esses aspectos no dia a dia, procurando tirar um tempo para si próprio e também em momentos de qualidade com a família. Por exemplo: 

1. Estabelecer limites diários sobre o uso de dispositivos eletrônicos.
2. Identificar as prioridades para a vida familiar e dedicar tempo para que isso seja realmente priorizado.
3. Limpar e organizar ambientes da casa, envolver as crianças nessa atividade e apresentar os benefícios de cada ação realizada.
4. Delimitar o tempo de uso de redes sociais e tentar conviver mais com as pessoas "fora" das telas.
5. Ter momentos solo fazendo atividades como: escrever, desenhar, crochê, tocar instrumentos, ou algo que goste de fazer ou queira aprender.
6. Fazer atividades em família como jogos de tabuleiro, passeios ao ar livre, cozinhar ou criar projetos artísticos.
7. Ficar um tempo na varanda em família observando as estrelas, conversando sobre qualquer tema, sem pressa.

Como você lida com esses aspectos tecnológicos no seu dia a dia? Você tem observado algum problema na sua rotina, ou não? Adoraria receber outras reflexões sobre o tema. Para mim, esse assunto caiu de paraquedas e me senti bem reflexiva durante o dia, seria bom conhecer outros pontos de vista.